Às vésperas da abertura da janela de plantio da soja no Rio Grande do Sul, que se inicia em 1° de outubro, a Associação dos Produtores de Soja no Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS) projeta um cenário desafiador e variável em termos de custos. O produtor deverá adotar estratégias cautelosas diante da conjuntura de endividamento agrícola e preços da commodity. As dificuldades de acesso ao crédito devem se refletir no nível tecnológico de implantação das lavouras. O cenário desenhado pela entidade aponta para lavouras normais, outras com menos tecnologia e ainda áreas que ficarão sem plantios. “Vai ter uma variação muito grande, com lavouras de custos altos e outras menores”, resume o presidente da Aprosoja-RS, Ireneu Orth.
O emaranhado normativo sobre o refinanciamentos de dívidas agrícolas deve ter influência na capacidade de investimentos dos agricultores. Pesa ainda sobre o planejamento dos produtores rurais o preço da oleaginosa e os custos de insumos. Na Expointer deste ano, a venda de insumos teve queda de 57,67% em relação ao comercializado em 2023, fechando em R$ 36,7 milhões. Para os agricultores, foi uma consequência da incerteza do agronegócio gaúcho em relação à capacidade de investimento para a próxima safra.
Menos investimentos
O presidente da Aprosoja-RS reforça o desnível que afeta os agricultores gaúchos. “Temos áreas no Planalto Médio e nas Missões em que a turma vai fazer uma lavoura normal. Quem tem terra própria vai gastar em torno de 30 a 33 sacos de soja por hectare, ao preço de R$ 130 a saca hoje. Na Região Sul, vejo que vai sobrar muita área sem plantar”, pondera Orth. Quem não conseguir crédito deverá se utilizar de menos tecnologias.
“Nas áreas arrendadas em que o pessoal paga 12 sacos por hectare, o produtor vai fazer uma lavoura mais barata, gastando de 20, 25 e tal sacos por hectare, o que vai dar até 40 sacos de custo”, cita Orth.
A variável de custo envolve também a estratégia para a safra. “Tem gente que vai usar de 100 a 300 quilos de adubo por hectare, outros que vão usar adubo foliar, tem gente que teve que jogar calcário e outros, não”, diz. Com base no preço médio da soja atualmente, oscilando entre R$ 130 a R$ 135, o planejamento depende do patamar de financiamento que poderá ser alcançado. Se o produtor tiver mais recursos, pode investir mais e obter ganho maior se os preços reagirem.
“É uma coisa muito relativa. Eu planto soja há 53 anos e devo dizer que o produtor pode fazer o preço agora, mas tudo se altera se mudar o preço do produto final, se tiver financiamento ou não”, lembra Orth. “De toda forma, em função dos preços dos insumos, a lavoura vai ser cara porque a soja está baixa”, finaliza.
Para a safra 2024/2025, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estabelece o período de 1° de outubro a 28 de janeiro de 2025 para a semeadura no Rio Grande do Sul. A portaria SDA/Mapa nº 1.111/24, publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 15 de maio, retira a segmentação do plantio por região, adotada pelo sojicultor gaúcho no último ciclo.
Fonte: Correio do Povo