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Ucrânia vê com ceticismo fala de Putin sobre Brasil ajudar a mediar fim da guerra

Presidente russo disse que Brasil, China e Índia, a quem chamou de “amigos”, poderiam atuar como mediadores em possíveis negociações de paz

por Daiane Giesen
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Representantes do governo ucraniano reagiram com ceticismo à declaração do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que Brasil, Índia e China poderiam atuar como mediadores de potenciais negociações de paz entre Kiev e Moscou.

Segundo a CNN Brasil apurou com fontes em Kiev, os ucranianos têm dois problemas concretos com relação às colocações do líder russo.

Em primeiro lugar, o governo da Ucrânia não acredita que Putin tenha reais intenções de negociar a paz neste momento.

Além disso, Kiev já se manifestou diversas vezes contra uma proposta feita em conjunto por Brasil e China para pôr fim à guerra.

Numa entrevista à CNN Brasil, em abril deste ano, o próprio presidente Volodymyr Zelensky afirmou que o Brasil e outros países importantes do chamado Sul Global deveriam trabalhar em outro sentido: isolando Putin e o seu regime.

Uma das fontes ouvidas pela CNN nesta quinta-feira (5) disse que a fala do presidente russo sobre a mediação dos três países é uma “retórica velha”, e que ele estaria mentindo ao dizer estar interessado em uma negociação de paz verdadeira e legítima.

Baseada em Kiev e acompanhando de muito perto os desdobramentos da guerra e todas as negociações diplomáticas, a fonte pediu anonimato e acrescentou que o mundo não deveria levar em consideração as “fantasias” de Putin.

Kiev não descarta alguma participação do Brasil em esforços diplomáticos, mas acredita que a China, por ser o maior parceiro da Rússia, teria muito mais peso em qualquer discussão pela paz.

De qualquer forma, uma condição para a participação dos dois países seria uma mudança mais ampla nas propostas feitas até aqui.

As declarações do chefe do Kremlin aconteceram nesta quinta-feira durante um evento em Vladivostok, no extremo leste da Rússia.

Putin chamou os governos do Brasil, da Índia e da China (todos membros dos Brics, assim como a Rússia) de “amigos”.

“Nossos amigos e parceiros que estão sinceramente interessados ​​em resolver todas as questões relacionadas a este conflito. Principalmente a República Popular da China, Brasil e Índia. Não tenho dúvidas de que os líderes desses países, temos uma relação de confiança com eles, sinceramente se esforçam para ajudar a entender todos os detalhes deste processo complexo”, disse ele.

O governo russo promoverá em São Petersburgo, na semana que vem, um encontro de assessores de segurança nacional e assuntos internacionais de todos os países dos Brics.

O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, vai participar do encontro –que certamente discutirá a guerra na Ucrânia, além de outros conflitos internacionais.

É possível que Amorim volte a discutir a proposta de paz defendida pelos governos do Brasil e da China no evento.

O plano foi anunciado em maio durante uma visita de Amorim a Pequim, onde se encontrou com o chanceler chinês, Wang Yi.

A proposta sino-brasileira inclui pontos como o congelamento da guerra com as atuais linhas de frente, a autorização para a entrada de mais ajuda humanitária nos territórios ocupados e uma cúpula da paz com a presença dos países envolvidos e potenciais mediadores.

A ideia, no entanto, foi criticada por Zelensky e seu governo – que consideram que o congelamento das linhas de frentes seria uma vitória de Moscou, que continuaria ocupando quase 20% do território ucraniano.

Na sua fala desta quinta-feira, Putin sugeriu que um caminho para a paz poderia estar nos termos discutidos entre os dois lados durante negociações que aconteceram no início da guerra, em Istambul, na Turquia.

As discussões não deram em nada porque os russos exigiam, entre outras coisas, que a Ucrânia se declarasse um estado neutro, abrindo mão de entrar na Otan ou na União Europeia.

Ao insistir neste tipo de pré-condição, Putin apenas irrita os ucranianos e aumenta o ceticismo deles com relação a qualquer debate sobre a paz.

 

Fonte: CNN

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