Vacina universal contra o câncer dá passo promissor em estudo com RNA mensageiro
20 de julho de 2025

Uma vacina experimental de mRNA desenvolvida por cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, eliminou tumores em testes com camundongos, mesmo sem ser direcionada a um tipo específico de câncer. A descoberta, publicada na quinta-feira (18) na revista Nature Biomedical Engineering, representa um avanço promissor no desenvolvimento de uma vacina universal contra o câncer.
O diferencial da pesquisa está na abordagem: em vez de atacar um tumor específico, a vacina foi formulada para estimular amplamente o sistema imunológico, como se o corpo estivesse combatendo uma infecção viral. Essa resposta ativou as células de defesa, que passaram a reconhecer e atacar células tumorais.
“A grande surpresa é que uma vacina de mRNA, mesmo sem ter como alvo um câncer específico, conseguiu gerar uma resposta imune com efeitos anticâncer bastante significativos”, explicou o oncologista pediátrico Elias Sayour, líder do estudo e pesquisador da UF Health.
Combinação com imunoterapia eliminou tumores agressivos
Nos testes, os cientistas combinaram a vacina com medicamentos já utilizados na imunoterapia, como os inibidores de checkpoint imunológico (entre eles, o anti-PD-1). Esses fármacos atuam liberando os mecanismos de bloqueio das células T, permitindo que elas ataquem os tumores com mais eficiência.
A fórmula foi aplicada em camundongos com melanoma, um tipo agressivo de câncer de pele, e demonstrou resultados promissores mesmo em casos resistentes a tratamentos. Em alguns modelos, os tumores desapareceram completamente. Efeitos positivos também foram observados em câncer ósseo e cerebral.
Segundo os pesquisadores, a estratégia utilizada induziu os tumores a expressarem a proteína PD-L1, tornando as células cancerígenas mais visíveis ao sistema imunológico e ampliando a eficácia da imunoterapia.
Tecnologia semelhante à usada contra a Covid-19
A vacina segue a mesma lógica das vacinas de mRNA contra a Covid-19, como as da Pfizer e Moderna. Ela utiliza moléculas de RNA mensageiro envoltas em nanopartículas lipídicas, que carregam instruções para o organismo produzir proteínas que ativam o sistema imune.
No ano passado, a equipe de Sayour testou uma vacina personalizada de mRNA contra glioblastoma, um tipo raro de câncer cerebral, com resultados positivos em humanos. Naquele caso, a vacina era feita a partir de células tumorais de cada paciente. O avanço agora está na criação de uma vacina genérica, de uso mais amplo, que não requer personalização.
“Este estudo propõe um terceiro paradigma no desenvolvimento de vacinas contra o câncer”, afirmou Duane Mitchell, coautor da pesquisa. “Em vez de adaptar a vacina a um tumor específico ou buscar alvos comuns entre pacientes, podemos usar uma resposta imune forte e inespecífica como arma principal.”
Próximos passos incluem testes clínicos em humanos
Os pesquisadores agora trabalham para aprimorar a formulação e viabilizar os primeiros testes clínicos com pacientes. A meta é confirmar os resultados em humanos e avançar para a criação de uma vacina capaz de preparar o sistema imunológico para reconhecer e destruir diferentes tipos de câncer.
“Poderíamos despertar a resposta imune do próprio paciente contra seu tumor. Se isso for validado em humanos, terá implicações profundas no tratamento do câncer”, destacou Mitchell.
A pesquisa foi financiada por diversas agências dos Estados Unidos, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), e é vista como uma nova possibilidade terapêutica para pacientes com tumores agressivos ou que não respondem bem à quimioterapia e radioterapia.